Terça-feira, 22 de julho de 2025
Redenção

Tarifaço asfixia mais da metade das exportações de cinco setores brasileiros

Mais da metade de tudo o que é exportado por cinco setores brasileiros vai para os Estados Unidos e terá impacto da sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros. Juntas, essas indústrias embarcaram US$ 4 bilhões no ano passado para a maior economia do mundo.

Esse é o cenário revelado por um levantamento da Folha, que mapeou a dependência dos EUA de setores e estados a partir de números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).

Os números mostram o elevado grau de diversificação da pauta exportadora para o país presidido por Trump, que recebe produtos de 9.500 empresas brasileiras, segundo dados da Amcham (Câmara Americana de Comércio para o Brasil).

Há 30 segmentos que direcionam pelo menos um quarto das suas exportações para os EUA. No ano passado, eles venderam juntos US$ 20,3 bilhões para os EUA, o equivalente à metade de tudo que o Brasil direciona em produtos para abastecer a demanda americana.

Entre essas milhares de empresas, o ranking das que mais sofrem com a guerra comercial é encabeçado por aquelas que comercializam materiais de construção, como pedras, gesso, cimento, amianto e mica.

No ano passado, elas destinaram o equivalente a US$ 802 milhões para os Estados Unidos, ou 65,4% do total das suas vendas externas.

Desse total, o destaque foram as pedras de cantaria (cortadas em formas geométricas para serem usadas em construção) e rochas ornamentais (como pedras naturais, insumos para mosaicos, mármores e granitos). O Espírito Santo aparece como o estado que mais envia esses produtos aos EUA, com 84,4% do total embarcado pelos estados da federação.

Em segundo lugar no ranking, estão aeronaves, partes e peças para aviões: 61,7% das exportações desse setor, que tem como líder absoluto a Embraer, são destinadas ao mercado americano, em vendas que somam US$ 2,6 bilhões. Nesse caso, o estado mais afetado é São Paulo, de onde se originam 91% das aeronaves e partes que são enviadas aos EUA.

Outro segmento fortemente dependente dos EUA em suas exportações —61,3% do total vendido ao exterior, ou US$ 323,8 milhões— são armas e munições, com destaque para a fabricante Taurus. O Rio Grande do Sul é o estado que mais envia esses produtos aos Estados Unidos, com 52,5% do total embarcado.

O segmento de peixes, crustáceos e moluscos envia 60,8% da sua produção aos Estados Unidos — o Ceará é o estado mais impactado, já que 24% desses produtos têm como origem o ente da federação.

Os dados levantados pela Folha ainda mostram que, em quinto lugar dos segmentos mais dependentes, aparecem as peles com pelos, com 54,5% das exportações enviadas aos EUA no ano passado —quase o total (99%) que é enviado para o país tem origem no Rio Grande do Sul.

O estado com maior dependência das exportações dos Estados Unidos, independentemente do segmento avaliado, é o Ceará: 44,9% de todas as exportações da entidade da federação, com destaque para ferro fundido e aço, têm como destino a maior economia do mundo.

O segundo estado brasileiro com maior peso dos Estados Unidos como destino de vendas externas é o Espírito Santo, com 28,6% embarcados para o país, seguido de Paraíba (21,6%), São Paulo (19%) e Sergipe (17,1%).

Quando se considera o trajeto inverso do comércio bilateral, o segmento que mais se destaca entre as exportações dos Estados Unidos para o Brasil é o fósforo. O mercado brasileiro responde por 88% do total vendido pelos americanos do produto a outros países, segundo dados da base de dados da United Nations Comtrade.

Aparecem na lista ainda os compostos químicos derivados do metano, etano e propano, com o Brasil registrando peso de 81,8% do total vendido pelos Estados Unidos, e pasta de cacau, com 81,5% (Folha, 22/7/25)

(Folha de S. Paulo/por Maeli Prado, Natália Santos e Tiago Cardoso. Foto: divulgação)