Partindo do porto de Belém no Rio Guamá, em menos de 10 minutos de lancha, é possível trocar a confusão urbana de uma metrópole, pela calmaria da floresta amazônica. Ou era… Desde que o turismo “descobriu” uma ilha chamada “Combu”, a vida dos ribeirinhos da região nunca mais foi a mesma.
Nascido e criado nessa ilha, onde não há ruas e a locomoção é feita apenas pelas águas, Ronaldo Pinho, 41 anos, ganha dinheiro com a coleta extrativista de açaí – fruto amazônico que ganhou fama pelo mundo – e da pesca de peixe e camarão. Mais recentemente, se tornou também piloto de embarcação. As circunstâncias o levaram a este novo ofício. É que o número de turistas querendo navegar pelos rios que ele cresceu navegando, aumentou exponencialmente na última década. Eles são atraídos pela expectativa de vivenciar a Amazônia há poucos minutos da cidade, usufruindo da infraestrutura de restaurantes e pousadas construídos ao longo do leito do rio.
O aparecimento desses turistas demanda cada vez mais embarcações, que faz empresários construírem ainda mais empreendimentos, o que atrai mais turistas… e segue o ciclo. Foi aí que Ronaldo viu a oportunidade financeira. Em uma rápida travessia transportando passageiros na sua lancha com 20 lugares, ele arrecada 240 reais.
O turismo de lazer que transformou a economia da ilha está colapsando o ecossistema da região. O desaparecimento de peixes e mariscos é só um dos muitos prejuízos.
As condições de vida na Ilha do Combu estão cada vez mais precárias. Tudo isso há poucos minutos do centro urbano de Belém, que ironicamente, é cidade sede da COP 30, onde em novembro líderes mundiais irão se reunir para debater adaptação e mudanças climáticas.
(Por Fábia Sepêda, g1 Pará e TV Liberal — Belém. Foto: Fábia Sepêda / TV Liberal)