Sexta-feira, 8 de agosto de 2025
Redenção

Ministro Dino abre inquérito para investigar grupo suspeito de fraude em licitação da COP 30

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de um inquérito para investigar uma suposta organização criminosa no Pará que teria arregimentado policiais para fazer saques milionários, cometido crimes eleitorais e praticado corrupção envolvendo uma licitação de R$ 142 milhões da COP 30, a conferência do clima que será realizada em Belém.

Posteriormente, diante das denúncias, a licitação foi suspensa. O governo do Pará, que licitou a obra, afirmou que não houve crime.

O pedido de investigação foi feito pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, em 26 de fevereiro deste ano. O inquérito foi aberto em março. Gonet apontou indícios de que o deputado Antônio Doido (MDB-PA), que tem prerrogativa de foro perante o STF, comanda o esquema.

Além do deputado, são investigadas outras 11 pessoas, incluindo o secretário de Obras Públicas do Pará, Ruy Cabral, e um policial militar, apontado como segurança do parlamentar.

O inquérito está sob sigilo. O caso foi revelado pelo site “Metrópoles”. O g1 teve acesso ao pedido de inquérito formulado pela PGR.

Segundo o órgão, o suposto esquema tem duas empresas centrais cujos donos são ligados ao deputado Antônio Doido.

A J. A Construcons Civil Ltda, registrada em nome de Andrea Dantas, esposa do parlamentar. Entre 2020 e 2024, o governo paraense pagou R$ 911 milhões para essa empresa em vários contratos;

E a JAC Engenharia Ltda, registrada em nome de Geremias Hungria, funcionário de uma fazenda do deputado localizada em Tomé-Açu, no interior do Pará.

Obra da COP e saque milionário

Em maio de 2024, a Secretaria de Obras Públicas do estado abriu licitação para execução da Perna Norte da rua da Marinha até o Canal do Bengui, em Belém, uma obra prevista, segundo documentos no site do governo, como parte das melhorias para a COP 30, que será realizada em novembro.

A J. A Construcons Civil Ltda e a JAC Engenharia Ltda formaram o Consórcio Perna Norte e apresentaram uma proposta de R$ 142,3 milhões, em 20 de setembro de 2024.

Além de as duas empresas “serem suspeitas de pertencer ao deputado federal”, de acordo com a PGR, na mesma data (20/09/2024) o coronel da PM Francisco de Assis Galhardo do Vale, segurança de Antônio Doido, sacou R$ 6 milhões em um banco na cidade de Castanhal (PA) e tentou se encontrar com o secretário estadual de Obras, Ruy Cabral.

A Polícia Federal só veio a descobrir esse saque e as mensagens trocadas entre o PM e o secretário ao prender o coronel Galhardo e apreender seu celular em uma ocasião posterior — quando o policial fez um outro saque milionário às vésperas das eleições municipais.

Flagrante eleitoral e corrupção

Em 4 de outubro de 2024, o coronel Galhardo e Geremias Hungria, o dono formal da JAC Engenharia, foram presos em flagrante ao sacarem quase R$ 5 milhões em um banco de Castanhal.

O que dizem os investigados

O g1 procurou o gabinete do deputado Antônio Doido e a Polícia Militar do Pará para se manifestarem sobre o inquérito no STF e esclarecerem as relações entre os investigados. Não houve resposta até a última atualização desta reportagem.

(Por Reynaldo Turollo Jr, g1 — Brasília. Foto: divulgação)